Oscar Niemeyer: as curvas nunca mais foram as mesmas

Alcançando o centenário em 2008, a sua mente nunca parou, assim como a sua memória, que segue eternizada nos mais de 600 projetos distribuídos em todo o mundo.

Inquestionável, a História mostra os fatos com perspectiva. Somente as criações de talentos grandiosos ultrapassam os limites do tempo, entram para os livros e se tornam icônicas. Alguns gênios, como Van Gogh, terminam suas jornadas sem o reconhecimento merecido. Há também aqueles que se tornam referência ainda em vida. Ao pensar em um determinado ofício, seus nomes saltam à mente: Ayrton Senna no esporte, Tarsila do Amaral na pintura, Machado de Assis na literatura.

Na arquitetura, Oscar Niemeyer é o nome que todo mundo, independentemente da idade, conhece. Darcy Ribeiro já dizia: “Oscar Niemeyer (será) o único brasileiro a ser lembrado, no mundo todo, daqui a mil anos”. A trajetória do carioca que transformou paisagens da América Latina e do mundo presenteou o país com um legado etéreo, daqueles que são deixados pelos inalcançáveis.

Carioca da gema, foi arrebatado pelo desenho ainda jovem e, assim que se formou em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), iniciou a carreira ao lado de grandes nomes da época, como Lúcio Costa, Gustavo Capanema e o arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Pelas mãos de um dos únicos brasileiros consagrados pelo Prêmio Pritzker de Arquitetura, surgiram obras como o Teatro Nacional Cláudio Santoro, o Palácio do Planalto, o Palácio do Itamaraty e o Congresso Nacional. No exterior, destaca-se a Sede das Nações Unidas, desenvolvida por uma comissão de dez arquitetos, da qual Niemeyer foi um dos líderes.

Emblemático, o edifício Copan é um dos símbolos da arquitetura moderna brasileira. O prédio tem a maior estrutura de concreto armado do país e foi encomendado para as comemorações do Quarto Centenário da cidade de São Paulo.
A arquitetura de arco é uma das marcas da Praça dos Três Poderes, onde o Palácio do Itamaraty e o Congresso Nacional estão localizados. A complexidade das obras revela a busca por solução e inovação. Não à toa, ambas foram declaradas patrimônios históricos culturais.
Em formato de uma concha acústica, o auditório em Ravello é insuperável: as fachadas frontal e lateral foram espelhadas e a sua onda de concreto armada é vista de longe.

A passagem do gênio carioca, em 2012, não findou a sua contribuição para a arquitetura. Além do museu e da fundação Oscar Niemeyer, que reúnem a biografia e o acervo do arquiteto, mais de 20 livros contam a sua história, assim como filmes e edifícios que o homenageiam — um legado que segue a revolucionar o ofício, a ciência e a inovação, mesmo que indiretamente.

Nessas obras, há fragmentos que expressam a essência do revolucionário pai da arquitetura brasiliense, como a sua admiração pelas curvas. “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo”.