Ruy Ohtake: entre cores e curvas

Segundo o crítico de arte Agnaldo Farias, Ohtake “evitou cuidadosamente que o substrato político o distanciasse da atividade projetual, o que fez liberando sua própria expressão até o ponto em que seu trabalho passasse a revelar sua condição de produto inequívoco de uma subjetividade”.

A reivindicação da arquitetura como obra de arte, esculpida em espaços urbanos que integram natureza e pessoas, é um dos aspectos mais importantes da obra do arquiteto Ruy Ohtake, que partiu no final do ano passado, aos 83 anos. Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em 1960, o paulista criou uma linguagem autoral em mais de 420 obras no Brasil e no exterior, sempre à frente das inovações da indústria de construção, explorando uma plasticidade que distinguia as suas criações, como obras públicas, escolas, cinemas e teatros, além de edifícios residenciais e corporativos.

Filho da artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake, teve contato com o mundo da arte e da arquitetura ainda jovem, quando transitou pelas escolas carioca e paulista de arquitetura, lideradas por arquitetos e urbanistas modernistas como Oscar Niemeyer (1907–2012) e Vilanova Artigas (1915–1985). Com uma conduta guiada pelo alcance social da arquitetura integrada às cidades, Ohtake desenhou residências que desafiavam o caráter frio dos espaços urbanos, com conexão entre o privado e o público, iluminação zenital e amplas aberturas que traziam a paisagem externa para o lado de dentro.

“Estou interessado em criar formas que surpreendam as pessoas, que sejam ousadas”. E assim o fez. Para Ohtake, a emoção provocada pelas curvas e pelas cores superavam a dureza das linhas retas, que não causavam surpresa. O desenho, a cor e a cidade são a tríade do legado do arquiteto, que teve seu reconhecimento em vida. Em 1971, venceu o Prêmio Carlos Millan, conferido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) pelo conjunto da obra. Ao longo da carreira, o paulista recebeu cerca de 25 prêmios, como o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB (2007), os títulos de Professor Emérito da Faculdade de Arquitetura de Santos e de Professor Honoris Causa da Universidade Braz Cubas. Na comemoração dos 60 anos da FAU USP, em 2008, foi convidado a fazer uma exposição no grande espaço projetado por Vilanova Artigas.

Alguns marcos urbanos da arquitetura paulista levam a assinatura de Ohtake, como o Hotel Renaissance, prédio de 27 andares onde o arquiteto visou estabelecer um diálogo com o entorno por meio dos terraços de grandes curvas.
Inaugurado em 2001, o Instituto Tomie Ohtake desenvolve um programa de exposições nacionais e internacionais, tanto contemporâneas como históricas, e se desdobra em outras atividades como debates, produção de conteúdo, documentação e edição de publicações, além de pesquisa no ensino da arte contemporânea.
Em seis décadas de carreira, o arquiteto imprimiu autenticidade e se consagrou como um dos modernistas que mudaram e definiram a identidade da arquitetura brasileira também em projetos residenciais, como a Residência Luiz Izzo.
Em 1985 e 1997, a residência recebeu duas ampliações, incorporando ao final os dois terrenos vizinhos, tornando o terreno retangular e expandindo o imóvel a uma área de 736 metros quadrados.
Entre os edifícios residenciais que se destacam no horizonte paulista, o Quatiara, no Butantã, marcado pela integração que é parte fundamental da assinatura de Ohtake.